
Perdida, Carina Rissi
Escritora brasileira que já se aventurou no mercado literário alemão, Carina Rissi consegue encantar e aprisionar o leitor em seu livro de estreia, tanto pela boa construção de personagens e conflitos quanto pela simplicidade e despretenção da história.
Tudo começa em uma metrópole brasileira não especificada, onde vive Sofia Alonso, uma viciada em tecnologia e em trabalho que passa por uma situação um tanto quanto inusitada. Após comprar um novo celular, algo misterioso envolvendo o aparelho faz com que Sofia descubra que não está mais em seu próprio século, e que a visão de carruagens e homens andando à cavalo não é pura imaginação. Depois do choque inicial, ela tenta a todo custo descobrir um meio de voltar para casa, e conta com a ajuda da família Clarke, que a recebe como uma agregada da família. Com o passar do tempo ela percebe que o que se quer às vezes não é a mesma coisa que o que precisamos, e que talvez a vida que levamos não é exatamente o que deveríamos estar vivendo.
De boa construção de personagens se baseia Perdida. A personagem principal é a mais chamativa por um motivo simples e que percebemos logo no início da narrativa: Sofia Alonso é hilária. Tanto seu linguajar contemporâneo quanto as percepções que ela tem do que acontece ao seu redor arrancam algumas risadas. Os diálogos que ela trava com Ian Clarke, o chefe da casa em que ela se hospeda, são muito engraçados. Sua construção como ser humano deu-se de fora para dentro, pois como uma mulher da metrópole no século XXI, tem conceitos muito cristalizados sobre independência feminina, casamento e relação entre homens e mulheres, e somente a troca de ambiente possibilitou seu crescimento.
A narração flui a ponto de você só largar o livro ao terminá-lo, embora a história tenha sua porcentagem de previsibilidade. Perdida é aquele tipo de livro que deve ser lido como passatempo, despretensiosamente. Não existem valores humanos abordados com profundidade, apesar de ter um leve questionamento interior sobre nossas decisões e como elas podem fechar caminhos que nem sabíamos da existência.
Um aspecto solto e que o leitor perceberá facilmente é o fato de Sofia ser descrita na sinopse como viciada em tecnologia e essa descrição não ser seguida a risca durante a história. Por viciada em tecnologia, dá-se a ideia de que a pessoa não conseguiria viver sem ela, e ter verdadeiras "crises de abstinência" seria o mínimo a acontecer, e nada disso passa pela Sofia. Deu a entender que ela apenas gostava de tecnologia, e não que era viciada, pois ao passar muito tempo no século XIX ela só quer voltar para casa, e nem uma vez - ou poucas vezes - reclama da falta de modernidades da época.
No geral, Perdida é um bom livro de estreia, sem muitas falhas e que possui uma história água com açúcar. Algumas pessoas mais sensíveis podem ter crises de choro, mas nada tão depressivo. Os personagens secundários são bem construídos, mas não ganham mais importância que a principal, e isso é o que deveria acontecer com todos os livros. Recomendável para quem quer uma leitura leve para passar o tempo, para quem gosta de romance e para quem gosta de histórias simples e bem executadas.
Uma coisa curiosa é que ao término da leitura, a capa te causa mais simpatia que ao início. Antes de ler eu não gostava da capa, mas ao terminar o livro não pude continuar com a mesma opinião.