Querido John, Nicholas Sparks
Escritor invicto de best-sellers, Nicholas Sparks nos encanta com "Querido John", convencendo de que o amor pode muitas vezes perder seu rumo, e que talvez aja tempo para tudo acontecer durante a vida.
A história se passa em Wilmington, Carolina do Norte, onde vive o jovem rebelde John Tyree. Sem grandes expectativas, John curte uma vida que para muitos é considerada sem um propósito: pousando em vários empregos, bebendo cerveja no final do dia com colegas de escola, surfando até dizer chega, e finalmente chegar em casa para encarar a estranha relação com seu pai. Algum tempo depois, John vê que aquela vida não era para ele, e foi aí que ele decide se alistar para o exército dos Estados Unidos. Em uma de suas licenças, ele conhece a pessoa que muda sua vida para sempre: Savannah Lynn Curtis. E como é de se imaginar, um amor de escalas universais é nos apresentados por meio de várias cartas e telefonemas, nos revelando um pouco sobre a vida no exército, a experiência de ter uma relação com alguém que fica fora durante um ou dois anos ininterúptos, autismo e síndrome de Asperger, e a construção de uma relação antes inexistente entre pai e filho.
Em todos os seus atributos, "Querido John" é uma triste história de amor que transborda emoção. Ela faz jus aos que já experimentaram o exército, ou pelos menos conhecem alguém que esteve a serviço pelo seu país. Nas entrelinhas, pude sentir o sentimento de união entre os soldados do sargento Tyree. Quanto a isso, é um lado positivo, pois cheguei a imaginar se esta história não teria sido baseada em uma vida real. Não me surpreenderia se caso isso acontecesse.
Uma das coisas que mais apreciei nesse livro foi a relação amigável e "inexistente" que se estabeleceu entre o narrador-personagem e seu pai. Isso só aconteceu porque Savannah, de certa forma, abriu os olhos daquele ex-rebelde. A compreensão e a suspeita do que se passava com o pai podia ser sentida pelo leitor.
Já vi comentários por aí de que Sparks teria um exagero pela carga emocional, e que isso prejudicava a leitura. Com todo respeito, eu discordo disso. Para quem lê - e até para quem escreve -, vão me entender quando digo que fazer alguém se emocionar é difícil. Contando com todas as personalidades extremamente diferentes dos leitores espalhados pelo mundo, se um autor consegue fazer pelo menos alguns se emocionarem - a ponto de chorar, como foi o meu caso -, já é uma vitória. Um filme, por exemplo, é muito mais influenciável, com suas sequências dramáticas e fundo musical sério. Agora algo nu e cru, como um livro, é - e precisa ser - o meio de entretenimento mais sentimental do mundo. Quando lemos as palavras, elas nos dizem o que aquela pessoa está sentindo. Querendo ou não, o autor sempre acaba passando algo de si para sua obra. Conhecemos alguém pela maneira de escrever, é nisso que acredito. Nicholas Sparks é alguém direto, emotivo e bastante empenhado no que faz.
Para os que querem uma história água com açúcar e fácil, podem se deliciar com "Querido John". A linguagem é objetiva e ao mesmo tempo bastante pessoal. Mesmo que o narrador-personagem seja um homem, acho que Sparks se daria bem ao escrever um livro com uma narradora. Se por acaso houver alguma esperança de que Savannah nos alegre com uma história só sua, eu terei o prazer de ler! Sua personalidade também é algo bastante interessante, e sua devoção por cavalos deixa tudo ainda melhor.
O que me deixou um pouco triste é que a edição que consegui - 10ª Impressão 2010 -, tem a capa como cortesia da Sony Pictures Entertainment Inc. Digo que a capa original é bem mais charmosa, e dá um ar mais pessoal para a obra.
Finalizando, em questão de nota, eu daria 10 de 10.